sexta-feira, 22 de julho de 2011
Jornal do Sul: Envolvidos em denúncia que levou à cassação de Nailor Biava mudam versão dos fatos
Desde o pleito de 2008, o assunto mais comentado no município de Timbé do Sul, e com projeção até mesmo nacional, meche com a população da pequena cidade de pouco mais de 4 mil eleitores. Foi através de gravações e de depoimentos de Isaías Martinho, sua irmã Claudete Martinho e seu cunhado, Oldemar Velho, que a justiça eleitoral resolveu cassar o prefeito Nailor Biava (DEM) e Mariano Alexandre (PSDB), que haviam vencido aquela eleição municipal.
Julgamento
No Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o desembargador Newton Trisotto, que havia pedido vista do processo na sessão do dia 12 de agosto de 2009, votou contrariamente ao relator do processo, dizendo que "houve claro pedido de votos em troca de vantagens", sendo a conversa gravada apta a demonstrar a captação ilícita, apesar de considerar que a gravação não seria lícita, uma vez que a testemunha que fez a gravação o tenha feito com a intenção clara de prejudicar Biava, tendo "preparado o encontro" no qual o prefeito eleito ofereceu cestas básicas e demais vantagens a eleitores.
O Pleno do TRE havia iniciado o julgamento do caso de cassação de Nailor Biava (DEM), prefeito reeleito de Timbé do Sul, no dia 27 de julho do mesmo ano, com o voto do relator que dava provimento ao recurso e inocentava Nailor da acusação de compra de votos, por não reconhecer licitude nas provas testemunhais, e ainda, por considerá-las contraditórias e insuficientes para ensejar a cassação do mandato.
Pelo voto do relator, reverteria-se a sentença do Juízo da 42ª Zona Eleitoral, que no dia 13/05 cassou os diplomas do prefeito e de seu vice, Mariano Alexandre, por suposta compra de votos na eleição de 2008. A defesa de Biava argumentava que a prova colhida deveria ser considerada nula por tratar-se de gravação clandestina, prova que no entendimento do juiz Rafael Milanesi Spillere de Turvo era "de pouca valia para o deslinde da causa", porque a condenação baseou-se em provas documental e testemunhal.
De acordo com o juiz da Comarca de Turvo na época, as testemunhas Claudete Martinho e Oldemar Velho foram categóricas em descrever a visita do requerido Nailor em sua residência bem como o oferecimento de vantagens pessoais.
Nova eleição
Com a confirmação da cassação de Nailor Biava e Mariano Alexandre, assumiu a prefeitura por pouco mais de três meses o presidente da Câmara de Vereadores, que havia sido reeleito parlamentar no ano anterior, Vadir Savi Sobrinho, o Tio Quira (PP).
Enquanto o progressista administrava a prefeitura, a justiça decidia pela ocorrência de uma nova eleição para o poder executivo de Timbé do Sul, marcada para o dia 06 de dezembro de 2009. Desse pleito, Eclair Alves Coelho (PMDB) e Luciano Moro (PMDB), venceram por sete votos Maria de Fátima Lodetti Alexandre(PSDB) e Vilmar Mafioletti (PP), assumindo a administração municipal no dia 1º de janeiro de 2010.
Denunciantes procuram o jornal
Á 20 dias nossa reportagem foi procurada por Isaías Martinho, dizendo que estaria querendo esclarecer os fatos, pois, segundo ele, estava arrependido do que teria feito e compactuado. Já em Timbé do Sul, ouvimos seu relato e de Enio Dal Pont, que também gostaria de falar sobre o assunto. Na transcrição abaixo, o Jornal do Sul descreve o conteúdo da entrevista que nos foi concedida:
JS – Isaías Martinho, 33 anos, natural de Criciúma, e residente em Timbé do Sul, o que tem a dizer a respeito desse assunto?
Isaías Martinho – Eu fui procurado pelo advogado do Eclair Alves Coelho, e a ele fui apresentado pelo próprio Eclair e o atual vice prefeito Luciano Moro. Depois ele (advogado) me disse que já trabalhava em um processo meu, onde eu pedia a guarda da minha filha. Eu concordei e disse que era verdade. Então, ele me fez a proposta que fez com que tudo começasse. O advogado, sem saber a oferta que eles já haviam feito, disse que se eu fizesse o que eles queriam eu teria minha filha de volta.
Aí fui embora, pensei e disse que faria o serviço, pois para conseguir um filho de volta a gente faz qualquer coisa. Assim que tive a gravação na mão, falei com eles na casa do Eto Pesseti, e eles confirmaram, dizendo que me davam uma casa, mais R$ 50 mil, um carro e mais um emprego na prefeitura em que eu receberia R$ 2 mil por mês. Eu disse que topava.
Eu recebi o carro, que era do Enio Dal Pont (que confirmou a negociação) e recebeu do Eto Pesseti R$ 8 mil pela venda desse veículo, um Tempra. Eu peguei o carro da mão do Eto. Aí peguei o automóvel e fui embora para Criciúma, tive que sair de Timbé.
JS – Nas gravações, como você procedeu? Como conseguiu o material?
Isaías Martinho – Foi com as orientações do advogado do Eclair que eu fiz, e nesse meio tempo ele me disse que teria de levar também no escritório dele, a minha irmã Claudete e o meu cunhado Oldemar para sair tudo como eles haviam planejado. No dia da audiência com o juiz, em Turvo, ele (advogado) disse que nós tínhamos de fazer “assim, assim e assim”, se não, nós iríamos eram presos.
Antes da Claudete e do Oldemar entrar no escritório dele, ele me chamou e disse assim: “Você vê lá o que tem de falar, porque é a tua filha que está em jogo, se não eu não posso fazer nada por ti”. Depois disso, a gente foi para a audiência, ciente do que tinha de dizer, porque também eles nos ameaçaram e até hoje continuam nos ameaçando.
JS – Por que você está sendo ameaçado?
Isaías Martinho – Lá no Fórum deu tudo certo, o Nailor foi cassado e depois o Eclair ganhou a eleição. Mas eles não me deram o que prometeram. Para a minha irmã e o meu cunhado eles estão dando uma casa agora, que inclusive são funcionários da prefeitura que estão construindo. Mas eu, além de não conseguir até hoje a minha filha, também fiquei sem nada.
Vendi o carro em Sombrio, a casa, eles alugaram uma pra mim, no Centro do Timbé e agora querem que eu saia dessa casa, que não pagaram nem o dono dela. Por isso andam me ameaçando. O dinheiro e o emprego na prefeitura também, eu não vi.
JS – E por que agora, você resolveu falar isso?
Isaías Martinho – Eu resolvi falar sobre isso agora porque quero tirar um peso da minha consciência. Hoje eu sou uma pessoa evangélica e eu sei que não foi certo o que fiz. A minha filha entrou no meio disso, e como eu estou jogando tudo a limpo, posso dizer que pra mim ele (Eclair) não deve mais nada, eu não quero mais o que ele me prometeu, e se tiver de pagar em algum lugar, que pague para a justiça.
O Jornal do Sul, enquanto veículo de comunicação constituído, também coloca este mesmo espaço à disposição das demais pessoas citadas na reportagem.
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